Que a terra seja a guia
E o tempo, o meu senhor
A eles eu peço a benção
Guarnição do meu andor
Que me ensinem a seguir
Na barca do rio do amor
Que nas águas balançantes
Eu saiba me alimpar
E na mata verdejante
Meu coração saiba escutar
O chamado das estrelas
Os ensinos do luar
No ponto em que me firmo
Habita a minha presença
É o cajado do caminho
A romper qualquer sentença
A coragem que avança
E derruba a velha crença
E se vejo aqui da terra
O respiro lá do céu
Não há nada que me impeça
De enxergar por trás do véu
Eu ainda ei de provar
O sagrado e puro mel
Vou rasgando as camadas
Enxugo meu próprio pranto
Num mergulho iminente
De mim já não tenho espanto
Com minha sombra e minha luz
Poesio, brinco, canto
Não pertenço a esse mundo
De mentiras liquidadas
Vim de longe, encarnada
Me curando nas estradas
Para um dia me alembrar
Das memórias encantadas
Mas, por hora, aqui estou
E dou graças por ser gente
Errante, inacabada
Ora tola, impaciente
Grão de areia, gota d’água
Do universo, afluente.
Keyane Dias — 30.12.2015