ESCRITURAS

Yoga

Eu sou é bem pequenininha,
moro num morro de areia,
a minha rede balanceia.
Eu sou pequenininha de mamãe,
moro num morro de areia.”
(A Barca)


Refletindo sobre Yoga, relembrei dessa canção de encantaria do grupo A Barca. É mais ou menos desse jeito que me sinto desde que essa arte fez-se presente no estradar e eu pude alcançá-la há alguns anos, atravessando as fronteiras sociais que ainda rondam o acesso ao Yoga. Nele estradando, balançamento e reequilibrando, pequenininha vou descamando o existir, a beleza do não-saber e do (re)descobrir-se. É além de escrituras, de gurus e do tapetinho (sem negar nenhum deles). É vida vivida.

In)voluindo*,
vamos indo.
Sem almejar falsas evoluções,
falas mansas obrigatórias
ou poderes mágicos,
atingíveis para poucos.
É mais sobre o simples,
sobre o que nutre o invisível
orbitante à pele.
É sobre deixar-se ser outono
para viver o fim sem fim,
o caminho no caminho,
o “novo de novo”,
todo dia.

Quem sabe,
(in)voluindo,
os jogos de dentro
nos relembrarão
o compasso
da grande roda
do mundo.
Do passo à pele,
da pele ao corpo,
do corpo ao sopro,
do sopro à razão,
que jamais desabraçou
a matriz do som da alma.

Quem sabe,
(in)voluindo,
alcancemos a sabença
dos filósofos anônimos,
aqueles que,
por vezes,
damos a sorte de encontrar
por veredas, sertões
e esquinas.
Ou do Yoga da Ação,
onde Vandanas,
e outras mulheres selvagens,
não separam o céu da terra
em seus religares.

Yoga é sobre pés nus
sobre a terra.
É mais,
é muito mais
sobre chão.

Junho de 2020

* Involução é um conceito que conheci através dos ensinamentos do guruji B.K.S. Iyengar. O termo refere-se a um movimento que nos transporta de fora para dentro, da pele ao âmago, do uso dos cinco sentidos para fora ao mergulho no universo interior.

ESCRITURAS

Anicca

Poesia inspirada na experiência com a meditação Vipassana, no tradicional retiro de 10 dias para mergulhar no inconsciente. Salve Goenka e todas as meditadoras e meditadores que me possibilitaram este presente.

ciclos
Autoria da foto: desconhecida

O grito do silêncio
Despertou o meu vulcão.
Desafio dado a compreender
O que sinto.

No rio quente da memória,
Fito o que me faz pesar.
Pedras lançadas
Pelo vulcão do inconsciente.

Nua de mim,
Vou vagarosa,
Disseco-me.
Pedras profundas precisam sair.

Aprendo a observar.
E semelhante ao pó
Na sabedoria do vento,
O que foi peso se desfaz,
Impermanece.

Eis que acho a porta
Carregando a chave certa.

Keyane Dias – 20.03.15