Mergulhar-se,
aprofundar-se,
tocar o chão
do alto-mar
do peito.
Janeiro/2022
Mergulhar-se,
aprofundar-se,
tocar o chão
do alto-mar
do peito.
Janeiro/2022
(soprado por Fernando Pessoa)
Tens pressa de quê?
Acaso não recordas
que o tempo maduro
é quem dá o sabor
dos doces frutos
do prazer?
Entre o tempo de querer
e o tempo de ser,
recolha-te ao teu coração.
Pois o ego gritará
meias verdades que te servem,
mas não te são.
Março/2022
Ir em direção àquela,
que ninguém vê.
Raiz,
tronco,
superfície.
A seiva
que sobe
e desce.
Ontem vi…
um pouquinho.
Amanhã,
quem sabe.
Março de 2022
“Eu sou é bem pequenininha,
moro num morro de areia,
a minha rede balanceia.
Eu sou pequenininha de mamãe,
moro num morro de areia.”
(A Barca)
Refletindo nesse “Dia Internacional do Yoga”, relembrei dessa canção de encantaria do grupo A Barca. É mais ou menos desse jeito que me sinto desde que essa arte fez-se presente no estradar e eu pude alcançá-la há alguns anos, atravessando as fronteiras sociais que ainda rondam o acesso ao Yoga. E, nele estradando, balançamento e reequilibrando, pequenininha vou descamando o existir, a beleza do não-saber e do (re)descobrir-se. É além das escrituras, é além de gurus, é além do tapetinho (sem negar nenhum deles). É vida vivida.
(In)voluindo,
vamos indo.
Sem almejar falsas evoluções,
falas mansas obrigatórias
ou poderes mágicos,
atingíveis para poucos.
É mais sobre o simples,
sobre o que nutre o invisível
orbitante à pele.
É sobre deixar-se ser outono
para viver o fim sem fim,
o caminho no caminho,
o “novo de novo”,
todo dia.
Quem sabe,
(in)voluindo,
os jogos de dentro
nos relembrarão
o compasso
da grande roda
do mundo.
Do passo à pele,
da pele ao corpo,
do corpo ao sopro,
do sopro à razão,
que jamais desabraçou
a matriz do som da alma.
Quem sabe,
(in)voluindo,
alcancemos a sabença
dos filósofos anônimos,
aqueles que,
por vezes,
damos a sorte de encontrar
por veredas, sertões
e esquinas.
Ou do Yoga da Ação,
onde Vandanas,
e outras mulheres selvagens,
não separam o céu da terra
em seus religares.
Yoga é sobre pés nus
sobre a terra.
É mais,
é muito mais
sobre chão.
Junho de 2020
Tomada de lonjuras
Fui lambida por silêncios
Sucumbindo essa errância
De ter sempre o que dizer
E, ainda que eu diga,
Insiste um silêncio nu
No hiato das palavras
Escondidas do querer
Eu bem queria
Mas prefiro a poesia
Que não tem despertador
Dessas que, bem cedo,
Te acordam pelo peito
Pra despetalar a dor.
Abril / 2020
.
Acenderei mil velas
Firmarei meu ponto
Antes que o pranto
Dos desassossegos vis
Afogue meu rezo
Naquilo que não é meu
Quase nada é meu
Tão pouco seu
A não ser o rezo
O gozo do presente
E aquela intuição
Que dentro se sente
Por isso, acendo velas
Pra iluminar o canto
Do avesso das certezas
Que o tempo engoliu
E louvo
No altar do agora
A Santa Simplicidade
Que sempre nos sorriu
Janeiro / 2020
Saúde mesmo é ter amor
Dentro
Fora
E lá, onde ninguém vê
E quando a doença
Em ti aparecer
Convoque a presença
Que sustenta teu ser
Pois doença é desatino
Esquessência de si
É o afastamento
De onde a alma quer ir
Mas se tu bem olhar
Sem pressa e sem medo
Verá que a doença
Sempre conta um segredo
Escuta, aceita
E deixa ela ir
Aprendendo a lembrar
De cuidar bem de si
E celebra
A ciência da tua vida
Pois saúde é ser amor
E, com ele, não há partida.
Índia – Fevereiro/2019