ESCRITURAS

2022

Hoje ecoa um brado retumbante
É o Brasil a cantar democracia
Derrubando com amor a covardia
De um fascismo cruel e delirante
De vermelho estamos neste instante
Pra de novo dizer: não passarão!
É a voz popular desta eleição
Quem escreve esta histórica virada
Nem início e nem fim: é retomada
Das memórias e lutas neste chão

Outubro/2022
Lula Presidente

ESCRITURAS

Yoga

Eu sou é bem pequenininha,
moro num morro de areia,
a minha rede balanceia.
Eu sou pequenininha de mamãe,
moro num morro de areia.”
(A Barca)


Refletindo sobre Yoga, relembrei dessa canção de encantaria do grupo A Barca. É mais ou menos desse jeito que me sinto desde que essa arte fez-se presente no estradar e eu pude alcançá-la há alguns anos, atravessando as fronteiras sociais que ainda rondam o acesso ao Yoga. Nele estradando, balançamento e reequilibrando, pequenininha vou descamando o existir, a beleza do não-saber e do (re)descobrir-se. É além de escrituras, de gurus e do tapetinho (sem negar nenhum deles). É vida vivida.

In)voluindo*,
vamos indo.
Sem almejar falsas evoluções,
falas mansas obrigatórias
ou poderes mágicos,
atingíveis para poucos.
É mais sobre o simples,
sobre o que nutre o invisível
orbitante à pele.
É sobre deixar-se ser outono
para viver o fim sem fim,
o caminho no caminho,
o “novo de novo”,
todo dia.

Quem sabe,
(in)voluindo,
os jogos de dentro
nos relembrarão
o compasso
da grande roda
do mundo.
Do passo à pele,
da pele ao corpo,
do corpo ao sopro,
do sopro à razão,
que jamais desabraçou
a matriz do som da alma.

Quem sabe,
(in)voluindo,
alcancemos a sabença
dos filósofos anônimos,
aqueles que,
por vezes,
damos a sorte de encontrar
por veredas, sertões
e esquinas.
Ou do Yoga da Ação,
onde Vandanas,
e outras mulheres selvagens,
não separam o céu da terra
em seus religares.

Yoga é sobre pés nus
sobre a terra.
É mais,
é muito mais
sobre chão.

Junho de 2020

* Involução é um conceito que conheci através dos ensinamentos do guruji B.K.S. Iyengar. O termo refere-se a um movimento que nos transporta de fora para dentro, da pele ao âmago, do uso dos cinco sentidos para fora ao mergulho no universo interior.

ESCRITURAS

Hiato

Tomada de lonjuras
Fui lambida por silêncios
Sucumbindo essa errância
De ter sempre o que dizer

E ainda que eu diga
Insiste um silêncio nu
No hiato das palavras
Escondidas do querer

Eu bem queria
Mas prefiro a poesia
Que não tem despertador

Dessas que, nem tão cedo
Te acordam pelo peito
Pra despetalar a dor

Abril / 2020

Foto: @marianacvcabral

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ESCRITURAS

Altar

Acenderei mil velas
Firmarei meu ponto
Antes que o pranto
Dos desassossegos vis
Afogue meu rezo
Naquilo que não é meu

Quase nada é meu
Tão pouco seu
A não ser o rezo
O gozo do presente
E aquela intuição
Que dentro se sente

Por isso, acendo velas
Pra iluminar o canto
Do avesso das certezas
Que o tempo engoliu

E louvo
No altar do agora
A Santa Simplicidade
Que sempre nos sorriu

Janeiro / 2020

Ilustração: @lunarlilt